Pandemia: Como aproveitar melhor os recursos da cidade na estratégia de combate ao COVID-19.

Por Fernando F. A. Souza e Marcelo Tuck

A pandemia levou todos, compulsoriamente, para um novo tipo de vida. Grande parte no trabalho remoto, poucas locomoções, instituição definitiva do Delivery, mais tempo em casa, entre outras. Porém o ser humano está acostumado a se adaptar às diferentes adversidades, desde que a humanidade começou.

Em tempos difíceis é hora de repensar como melhor utilizar os recursos que as cidades oferecem e, por que não, utilizar as infinidades de meios que estão sub-utilizados, seja temporariamente por conta do isolamento social, seja por motivos da própria ineficiência do poder público, que já vem carregando diversos ativos, como terrenos ociosos, por exemplo.

Neste texto, não queremos obrigar a tomada de quaisquer decisões polêmicas, mas a proposta da URBIT é abrir um salutar debate sobre diversos pontos de interesse comunitário. Entre algumas propostas de curto prazo para mitigação da disseminação do vírus no ambiente urbano, destacamos:

1. Linhas dedicadas de ônibus para profissionais da saúde:

Neste momento, a rede de transporte urbano está claramente subutilizada. Poderia ser bem útil e interessante destinar parte da capacidade ociosa para transporte de profissionais da saúde. Lembramos que vários destes atores podem não dispor de meios próprios de transporte, e agora é necessário ter a toda agilidade possível. Isto sem falar na maior segurança, pois evitaria que esta categoria, que está na linha de frente no combate a COVID-19, tenham maior contato com a população que habitualmente usa o transporte público.

2. Peruas, ônibus e vans escolares ou empresariais:

Esta é outra modalidade de transporte que está sem o seu uso total, visto que as aulas, e boa parte da atividade comercial ou industrial, estão suspensas. Seria muito útil deslocar estes veículos para também agilizarem o transporte de equipes voltadas ao combate direto ao vírus. Além do benefício econômico para as empresas atualmente paradas, diminuiria a exposição desta categoria de risco no transporte coletivo.

3. Terrenos e edificações públicas ociosas:

Hospitais de campanha são fundamentais neste momento. Algumas áreas, como estádios de futebol e outros centros já estão sendo usados, porém este uso ainda está tímido e concentram-se nas áreas centrais, que já possuem uma boa infraestrutura hospitalar, principalmente na cidade de São Paulo. Sem considerar que não falta ao poder público, em suas 3 esferas, municipal, estadual e federal, são enormes áreas e construções vazias e sem uso, principalmente em áreas periféricas e próximas a estações de metrôs e trens, entre outras opções de transporte público. Poderiam ser mais bem utilizados neste momento, o que também ajuda na capilarização de atendimentos. Neste link preparado pela URBIT é possível visualizar todos os terrenos da Prefeitura e da União na cidade de São Paulo: https://urbit.com.br/mapa/terrenos-publicos#step-4

4. Vagas ociosas em hotéis para população de risco residente em áreas de vulnerabilidade social:

Existe uma evidente subutilização de vagas em hotéis, motéis, albergues e outros centros de hospedagem. Estes espaços poderiam ser utilizados para acomodação temporária da população em vulnerabilidade social e grupos de risco, cujas condições de habitabilidade são incompatíveis com o isolamento social, principalmente os que vivem sozinhos. Com certeza esta atitude evitaria a proliferação da epidemia, em grupos de risco, mas ainda sem apresentar sintomas, evitando seu contato em áreas de contágio. É fundamental tomar muito cuidado nesta política para que tais hotéis não sejam simples “repositórios de pessoas”, mas sim uma política séria de proteção dos mais vulneráveis.

5. Doação de Insumos de higiene:

Uma das mais curiosas atitudes neste período foi a alta procura de produtos de higiene, principalmente papel higiênico e álcool em gel, o que causou falta do produto em diversos pontos de venda. A população com maior poder aquisitivo conseguiu estocar, mas causou um desabastecimento em classes sociais mais baixas. É fundamental que o poder público garanta o acesso e a entrega gratuita destes produtos para a população carente em condições de vulnerabilidade social, além de um bom programa de conscientização. Isto é tão importante quanto garantir máscaras para todos.

6. Máscaras em locais públicos:

Cresce o hábito de se utilizar máscaras quando se sai na rua. Porém, ainda é extremamente alto o número de pessoas, pelos mais variados motivos, que ainda não a utilizam. O poder público, entre as várias atitudes drásticas, poderia obrigar o uso de máscaras por toda população sempre que sair de casa. As Prefeituras do Rio de Janeiro e Belo Horizonte já adotaram esta medida, o que é bom, mas deveria ser uma ação mais ampla.

7. Eliminação temporária dos subsídios de transporte público para estudantes, idosos e grupos de risco:

Eis outra atitude drástica, mas talvez importante e eficaz. Tal política atuaria como desincentivo para a mobilidade, principalmente da população do grupo de risco (idosos). Está em discussão em diversos municípios, e Belo Horizonte saiu na frente, eliminando a gratuidade para pessoas maiores de 65 anos.

Estas são só algumas ideias para abrir o debate. A URBIT acredita que todos estão conectados com o problema e devem ter outras ideias. A hora é de repensar a urbe como um todo, e explorar ao máximo os ativos da cidade para vencer esta batalha.